quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Paroxetina pode diminuir eficácia do tamoxifeno no tratamento de câncer de mama

Um estudo populacional prospectivo realizado com mulheres portadoras de câncer de mama e sendo tratadas com tamoxifeno em Ontário, no Canadá, publicado em fevereiro de 2010 no British Medical Journal, revelou que o uso concomitante com o antidepressivo paroxetina aumentou o risco de morte por câncer de mama nestas mulheres. Este resultado se deve, provavelmente, ao fato de a paroxetina inibir a enzima hepática CYP2D6, que tem um papel crítico na ativação metabólica e na efetividade clínica do tamoxifeno. É importante ressaltar que o estudo não encontrou este risco com outros antidepressivos.

O tamoxifeno é uma medicação utilizada há três décadas no tratamento de câncer de mama. Trata-se de um modulador seletivo do receptor de estrogênio. Ele é metabolizado no fígado pelo sistema de enzimas do citocromo P450 isoenzima 2D6 (CYP2D6) para produzir os metabólitos ativos, ou seja, aqueles responsáveis pelo efeito terapêutico do tamoxifeno. Em mulheres com câncer de mama em estágio inicial com tumor positivo para receptores de estrogênio, o uso de tamoxifeno reduz o risco de recorrência do câncer para a metade e o risco de morte pelo mesmo para um terço. Esses benefícios são independentes da quimioterapia, idade ou das características do tumor.

A paroxetina, por sua vez, é um antidepressivo da classe dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina, largamente utilizada no tratamento de quadros depressivos e ansiosos em todo o mundo. Ela é um potente inibidor da enzima CYP2D6, a mesma enzima que é fundamental na ativação metabólica do tamoxifeno. Cerca de 25% dos portadores de câncer de mama acabam sofrendo um quadro depressivo. Desta forma, esta população recebe com muita freqüencia a prescrição  de novos antidepressivos e, muitas vezes, fazem uso concomitante de tamoxifeno. Assim sendo, os autores do estudo consideraram de grande importância conhecer o impacto do uso de antidepressivos na evolução desta população.

Para esta avaliação, o estudo realizado foi do tipo coorte (prospectivo) e acompanhou 2430 mulheres que viviam em Ontário, Canadá, com 66 anos ou mais, tratadas com tamoxifeno para câncer de mama. O resultado encontrado foi extremamente importante: o antidepressivo paroxetina durante o tratamento com tamoxifeno para câncer de mama esteve associado a um risco maior de morte, o que reforça a hipótese de que a paroxetina pode reduzir ou até mesmo abolir os benefícios do tamoxifeno em mulheres portadoras de câncer de mama. Este risco não foi encontrado para outros antidepressivos.

Fontes: (1) Artigo científico Selective serotonin reuptake inhibitors and breast cancer mortality in women receiving tamoxifen: a population based cohort study, disponível na íntegra no site do BMJ. Referências artigo: Kelly CM, Juurlink DN, Gomes T, Duong-Hua M, Pritchard KI, Austin PC, Paszat LF.Selective serotonin reuptake inhibitors and breast cancer mortality in women receiving tamoxifen: a population based cohort study.BMJ. 2010 Feb 8;340:c693. doi: 10.1136/bmj.c693.; (2) Artigo "Antidepressivo reduz ação de remédio contra câncer, publicado no carderno Sáude da Folha de São Paulo, 3a. feira, 16 de fevereiro de 2010.
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